Existem muitos detalhes interessantes abrangendo o 13 de maio, mas eu quero comentar uma situação que ocorreu, alguns dias antes, envolvendo a regente do Brasil, Dona Isabel Cristina, a Princesa Isabel.


Graças ao testemunho do engenheiro André Rebouças, negro abolicionista e amigo da princesa, sabemos que no dia 4 de maio, a regente acolheu 14 escravos fugidos de fazendas vizinhas no palácio Imperial de Petrópolis, onde esses chegaram inclusive a almoçar. E de acordo com o autor Eduardo Silva, em “As Camélias do Leblon e a Abolição da Escravatura”, todo o esquema de promoção de fugas e alojamento de escravos parece ter sido montado com o auxílio da própria princesa.

Um debate corrente nas últimas décadas é sobre o papel da Princesa Isabel no processo da Abolição Brasileira. Movimentos historiográficos e até políticos buscam não só uma possível recontextualização, mas – com devidas exceções – retirar qualquer importância da figura da Princesa.

É sim um erro atribuir à figura de Isabel um papel pioneiro na luta contra a escravidão. Desde o início do processo, os negros escravizados lutaram por sua liberdade, a começar com a formação de quilombos até a preservação de sua cultura. Políticos como José Bonifácio – O patriarca da Independência – já discursavam e propunham o fim da escravidão e até na própria família de Isabel, Dom Pedro I escrevia, com pseudônimos, artigos abolicionistas em jornais.

A luta abolicionista já existia antes do nascimento de Isabel. E a própria concordaria com isso. Mas retirar sua importância, reduzi-la a apenas uma assinatura, é apagar uma importante parte do processo, especialmente durante as tratativas da Lei nº 3.353. Suas ações ao final dessa jornada impressionaram até os antigos críticos, como o jornalista e abolicionista José do Patrocínio.

O processo da Abolição foi um processo longo, que no seu final angariou todo o Brasil. Negros, brancos, senhoras, escravos, jornalistas, políticos, artistas, militares, e, sim, a Coroa, se uniram para realizar esse tão esperado momento na história brasileira.

O processo não foi perfeito e a união desses diferentes setores da sociedade não durou, mas naquele 13 de Maio de 1888, todos comemoraram juntos em frente ao Paço Imperial.  

Talvez essa seja a maior mensagem do 13 de Maio. O ensinamento de que a união dos brasileiros em torno de uma causa justa é possível. Em tempos conturbados como os atuais, um dia com significado tão bonito e expressivo vale ainda mais a pena ser celebrado.  

Termino então apenas citando as lembranças de Machado de Assis sobre o dia 13 de Maio de 1888:

“Houve sol, e grande sol, naquele domingo de 1888, em que o Senado votou a lei, que a regente sancionou, e todos saímos à rua. Sim, também eu saí à rua, eu o mais encolhido dos caramujos, também eu entrei no préstito, em carruagem aberta, se me fazem favor, hóspede de um gordo amigo ausente; todos respiravam felicidade, tudo era delírio. Verdadeiramente, foi o único dia de delírio público que me lembra ter visto.”

Assinatura da Lei Áurea no Paço Imperial
13 de Maio de 1888, Rio de Janeiro
Fonte: Wikimedia Commons

Referências:

  • ECHVERRIA, Regina. A história da Princesa Isabel: Amor, liberdade e exílio. 1º Edição. Editora Versal, 2014.
  • SILVA ANTUNES DE CERQUEIRA, Bruno e MORAES ARGON DA MATTA, Maria de Fatima. Alegrias e Tristezas. 1º Edição. Linotipo Digital, 2020.
  • SILVA, Eduardo. As camélias do Leblon e a abolição da escravatura. 1º Edição. Companhia das Letras, 2003.
  • REZZUTTI, Paulo. D. Pedro – A História não Contada. 1º Edição. Leya, 2015.
  • ASSIS, Machado de. A semana. Gazeta de Notícias, 14 de Maio de 1893.
  • ALONSO, Angela. Flores, votos e balas – O movimento abolicionista brasileiro (1868 – 88). 1º Edição. Companhia das Letras, 2015.

3 respostas a “A questão Isabel”

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