Rio de janeiro, 1870, as ruas do rio de janeiro eram áreas tomadas pelas maltas de capoeiras. Duas principais e rivais foram Nagóa e Guaiamús, as maltas eram vistas como milícias de grupos de capoeiristas formadas por negros, pardos e brancos pobres.

Cada lugar do centro do Rio era dominado por esses grupos rivais que se enfrentavam com árdua violência em seus encontros. As maltas ficaram dominadas e influenciadas por grupos políticos como os partidos conservador e liberal.

A violência entre esses grupos foram muitas vezes relatados pelos jornais da época e a capoeira sob controle e influência dos políticos fazia dela uma arte violenta para proteger seus interesses pessoais.   

Esse foi o cenário dos primórdios do surgimento da guarda negra que veio a se estabelecer com o firmamento da lei áurea. Todos os escravos estão libertos, Isabel a redentora, a princesa abolicionista, do quilombo de Petrópolis ao quilombo do Leblon, negros, brancos e índios, proclamavam seu nome por todos os rincões deste vasto pais.  Neste momento entra em cena Jose do patrocínio,

José do Patrocínio
Criador da Guarda Negra

O surgimento da “Guarda Negra”

Um homem negro, jornalista, redator e chefe do jornal “cidade do Rio”, ele reúne as maltas de capoeiras rivais Nagóa e Guiaimús, que por infinita gratidão a Princesa Isabel prezavam por código de honra proteger a princesa e a coroa imperial. Jornais da época relataram existir mais de 1500 homens, a temível guarda negra estava formada.

Boa parte dos políticos do partido liberal que apoiava uma das maltas passaram a apoiar o novo partido republicano que em sua maioria era formado por fazendeiro, cafeicultores, donos de engenho de cana-de-açúcar.

Homens que fizeram investimentos comprando escravos, que eram brutalmente impiedosos com eles, agora estavam a ver falência com a Lei Áurea que os republicanos tanto odiavam.

A “Guarda Negra” e os anti-abolicionistas

A guarda negra era a resistência, em um período onde a monarquia imperial brasileira passava por dificuldades, esses homens do povo, honrados por defender vossa princesa e a monarquia assim o faziam com pau, navalha e capoeira.

Um episódio marcante da nossa história se deu em 14 de julho de 1889, os republicanos realizavam um comício em frente à escola politécnica da faculdade de medicina.

Eles comemoravam os 100 anos da sanguinária e terrível revolução francesa. O discurso foi um ataque direto e excitação de violência contra o regime monárquico e quando menos esperavam, do outro lado do quarteirão homens negros, da guarda negra observaram tamanha a afronta feita pelos republicanos.

Daí pra frente a coisa ficou preta, por mais que José do patrocínio enfatizasse que a guarda negra era um movimento de proteção e resistência da princesa e da monarquia aqueles grupos de maltas rivais recém amigados viam em suas frentes seus verdadeiros inimigos, seus ex-patrões, os cafeicultores, fazendeiros homens perversos que a tantos anos causaram dor e sofrimentos a esses ex-escravos.

O NEGO FERVIA COM SANGUE NOSZOIO, naquelas alturas nem a própria princesa Isabel em pessoa poderia deter tamanha a violência praticada.

Foi rasteira, rabo de arraia, soco, pé no bucho, mão na cara e navalha nos pés. O cacete comeu, quantas vezes o negro ouviu nos pelourinhos de dor e prantos o patrão falar – Aqui o nego chora e a mãe não vê. Pois bem agora a situação é outra e o nego fala: – Aqui o patrão chora e o povo vê, e o povo gosta… e o cacete comia.

Foi um corre corre, até quem não tinha nada haver levou uma benção de pé espalmado na caixa dos peitos, era sinhô correndo pra lá e pra cá, era terno sujo de lama, chapéu enfiado no esterco a poeira subiu que só baixou quando a polícia chegou.

Esses e outros episódios marcaram a monarquia popular de nosso imperador e nossa princesa que antes de tudo eram admirados pelo seu povo, o negro temia a república, quando viam os seus ex-patrões soltar piadinhas pelos cantos das paredes dizendo: – A alegria de pobre dura pouco e do negro também.

O negro conhecia e temia os republicanos, pois com eles no poder o negro voltaria ao pelourinho.

Missa campal celebrada em comemoração a abolição da escravidão.
Na foto Vemos a Princesa Isabel ao centro e os principais abolicionistas junto dela.

Fontes:

ORICO, Osvaldo. O Tigre da Abolição. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977.320 p.

PATROCÍNIO, José do. A Campanha Abolicionista: coletânea de artigos. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1996. 340 p.

SOUZA,Cleuber Castro.O abolicionismo de José do Patrocinio: a ação politica na imprensa(1880-1889),2005,190 f. Dissertação (Mestrado).Universidade Federal de Brasilia.

BARBOSA, Rui. Campanhas jornalísticasImpério, 1869-1889. Rio de Janeiro: Fundação Casa Rui Barbosa, 1956.245 p.

Imagens: Internet.

Nota: A violenta ação contra-revolucionária por parte da guarda negra em 14 de julho de 1889 contra os republicanos foi um fato verídico relatado por jornais da época, entre eles o próprio jornal de José do Patrocínio “cidade do Rio”, porém o relato com minúcias e detalhes daquele confronto é uma obra de ficção criada pelo autor do texto .